Desperto de manhã num dia perfeitamente normal de pleno Novembro: Céu cinzento, com a chuva cinzenta a cobrir as casas, os passeios, os pedrestes e as árvores de um tom cinzento, de sombreados negros e, vejam só! Cinzento-escuro! Para me animar um pouco o dia, peguei no meu casaco verde vivo, e progredi para fora de casa, em sentido da paragem do costume;
Quando olho para a chuva enfadonha e cinzenta que contorno delicadamente com o chapéu, reparo que uma das pequenas gotinhas que escorre ávidamente por este vem tingida de laranja...
Isto, por acaso, alertou-me para um facto (na verdade, até foram dois):
Em primeiro, o chapéu que eu agarrei já deveria ter abrigado umas quantas pessoas, já que deixava a sua própria cor escorrer com a chuva;
Por segundo ponto de vista, isto alertou-me para uma questão: O que nos faz acordar infelizes e enfadonhos é o facto de, automáticamente, nos "camuflarmos" no ambiente que percorremos, e na sociedade em que coexistimos - isto é - Tendemos a vestir cores escuras num ambiente chuvoso, e tendemos a mascarar o nosso carácter conforme as pessoas que nos rodeiam.
Nem todos são assim, e é bom que assim seja (há que manter um certo equilíbrio). Só gostava que existissem mais pessoas a marcarem uma identidade única, uma presença original: " Como seria se, ao observarmos uma pintura em tons de cinza, nos deparássemos com uma afirmação expressa por cores vivas? Não seria mais original, mais marcante, mais único, do que uma pintura gravada de um cinzento semelhante ao céu no Inverno - um reflexo que espelha o enfadonho, ou um espelho de cores que reflecte a individualidade do Eu?