Capítulo IV: A visão
“- Se juntarmos a afinação 4 Elementos com Espírito Poderoso, obtemos a arma que é capaz de fotocopiar qualquer poder…
-Lara, já acabaste o trabalho? – perguntou-me Lila (a melhor amiga de sempre).
-Agora mesmo, mas que horas são?
-A aula começou á 5 minutos.
-Bolas!
Agarrei no monte de livros que tinha reservado para as aulas de hoje. E claro que também agarrei no pequeno trabalho que nos tinham mandado para hoje. Feito á completa pressa, até borrei um pouco da última palavra. Deixei o pequeno-almoço na mesa e corri para a aula.
-Tu...só..me…atrasas…Lara!
-Desculpa. Esqueci-me…do…trabalho!
Quando chegámos á aula, até senti a Lila encolher-se ao meu lado só com o olhar que a professora nos deitou. Fomos ter com a professora, pedimos desculpa, entregámos o trabalho e sentámo-nos.
-Até foi um alívio quando a aula acabou. Odeio Química do Poder…é uma seca!
-Mesmo. – respondi.
O resto do dia passos depressa. Até sorri quando me deitei na cama e adormeci em menos de 1 minuto…sabia que no dia seguinte seria o derradeiro dia em que iria matar todas as saudades das pessoas que amava: família, e o pai da criança, que carregava agora sempre comigo.
Foi ele mesmo que me veio buscar. Demetri estava mesmo bonito naquele fato todo arranjadinha, com a rosa vermelha presa ao peito.
Cumprimentou-me com o beijo mais caloroso que senti. Sentámo-nos no carro e seguimos caminho em direcção a casa. Foi a meio do caminho que senti como que uma lâmina a perfurar-me. Uma dor tão aguda e um som familiar levaram-me a concluir uma coisa…estava na hora. Ela ou Ele ia chegar ao novo mundo!
Julgo ter desmaiado, pois não me lembro bem deste dia. Lembro-me de algumas cenas distintas; lembro-me de ver o tecto andar sobre mim, lembro-me do som de sirenes, lembro-me das dores que sentia e lembro-me de ter nos meus braços…aquela criaturazinha minúscula, de olhos verdes claros, cor de jade, aquela pele branquinha ensanguentada, mas a melhor lembrança…sentia-a. Sentia-a dentro de mim. Como se fôssemos uma só. Um amor familiar, apenas compreendido por nós as duas.
Julgo ter ficado de cama algumas semanas. Não tenho memórias dos dias que se seguiram ao parto. Mas lembro-me muito bem daqueles olhos cor de jade. Diziam que as cores dos anéis das canetas da escola representavam a maior felicidade do futuro. Apoio essa ideia, já que o meu anel, ainda conservado no meu dedo, era cor de jade.
Levantei-me da cama quase que sem esforço algum, ansiosa por voltar a contemplar aqueles olhos. Fui conduzida por um choro vindo do berço ao lado da minha cama.
Peguei Lara ao colo. Era tão bela…já tinha uns cabelitos negros, mais pareciam veludo...
Foi nesse momento de prazer que ouvi gritos vindos da sala ao lado. Não era uma discussão, mas também não eram de felicidade ou prazer. Eram gritos de agonia, dor e desespero. Encostei Lara mais junto de mim, como para lhe dar segurança
E espreitei pela porta entreaberta.
Sentia-me como gelo por dentro a rachar. Tudo o que via era um vulto vestido de negro da cabeça aos pés, e via tudo pintado de vermelho. As paredes, o chão, os cadáveres no chão de todos os que amava…apenas sentia uma chama dentro de mim. Apenas tinha um dever agora. Proteger o único sobrevivente que ainda podia amar...
Tranquei a porta para me dar mais tempo. Peguei no livro mais velho que estava na estante. O livro apresentava a chave para a sobrevivência de Lara. Já tinha dado uma vista de olhos ao livro uma vez, por curiosidade, por isso sabia exactamente a localização do que queria:
Tinha a noção que para salvá-la, necessitava de sacrificar a minha alma. Mas não me importava. Tudo o que tinha de fazer era entregar-lhe o meu anel, mas com toda a milha esperança, alma e poder dentro dele.
A porta foi arrombada, mas já era tarde. Sabia que Lara estava segura algures no globo; sabia que tinha poder suficiente para cumprir a missão na qual não tinha força suficiente; sabia que tinha chegado a minha hora. A ultima recordação que tenho foi a de um choro delicado e dos seus dois olhos cor de jade…”
Regressei ao Mundo, onde as duas primeiras coisas que fiz foram limpar as lágrimas que me escorriam dos olhos e destruir o anel.